Terapia com sanguessugas
As
sanguessugas pertencem à família das minhocas (anelídeos). Existem mais de 300
tipos de sanguessugas, dos quais o Hirudomedicinalisé o mais conhecido.
Quando está faminta — isto é, quando é aplicada no doente — a sanguessuga pesa
de um a três gramas e tem de quatro a oito centímetros de comprimento. Quando
está satisfeito e repleto de sangue, o animal aumenta de quatro a cinco vezes o
seu volume. Isso é possível, porque ele armazena grande quantidade de sangue em
seu estômago, como provisão.
A sanguessuga tem um corpo chato, com um sugador em ambas as extremidades, para
se prender. Sua cor é marrom escuro, até preto, e no meio das costas tem um
risco esverdeado. Ela pode viver até 27 anos. O sangue assimilado pela
sanguessuga, liqüefeito pela Hirudina, é digerido entre 5 e 18 meses,
durante os quais ela não precisa de alimento.
Na terapia foi usada, e é utilizada ainda hoje com sucesso, para problemas do
sistema venoso, onde existe excesso de sangue, onde existe congestão no tecido
e para a rápida melhoria de um hematoma. Enquanto a terapia com sanguessugas
era muito comum, hoje infelizmente é utilizada por pouquíssimos terapeutas e
recusada por pacientes que sentem nojo.
Sanguessugas
se fixam pelas extremidades, sugam até esgotarem sua capacidade e se soltam
quando estiverem cheias de sangue.
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O
terapeuta pode colocar o animal exatamente no lugar onde deve realizar o seu
trabalho benéfico; ali a sanguessuga se prende e não muda um centímetro de
lugar, até estar gorda e cair sozinho numa vasilha.
A terapia com sanguessugas ajuda em casos de:
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Um pouco de história:
Já nos documentos antigos de medicina da Índia existem, em sânscrito, trechos
que descrevem detalhadamente a técnica do uso de sanguessugas.
Nikander de Colophon, que viveu de 200 a 130 antes de Cristo, foi o primeiro que
na medicina grega aplicava sistematicamente as sanguessugas.
Na medicina árabe, as sanguessugas aparecem regularmente como terapias.
Nos séculos 17 e 18, as sanguessugas são mencionados e usados freqüentemente. O
cirurgião de guerra, Pringle (1754), confirmou a utilidade da aplicação, de
imediato, 6 a
7 s. nas têmporas em casos de meningite e febre acompanhada de congestão e dor
de cabeça. O cirurgião mais famoso do exército prussiano recomendou, em 1776 a aplicação de 6 a 8 s. nas pálpebras, em caso
de infecção grave nos olhos.
Uma descrição detalhada e sistemática do emprego de s., baseada em ampla experiência
prática, encontramos na escola do médico alemão Hufeland (1762 – 1836). Para
ele, as s. são um meio importante de combater todas as infecções agudas nos
olhos, ouvidos, no cérebro, em casos de difteria, bem como em casos de infecção
do pulmão, do fígado, da bexiga, do baço, do estômago, do intestino, dos rins,
dos órgãos sexuais, das veias e articulações e até em casos de peritonite.
Na Rússia, Polônia, Romênia, França e o no Oriente, ainda são bastante usados,
no início do século 20, pelos práticos e na medicina popular.
O médico, Dr. Kepelner, que trabalhava nos sanatórios de Mean e Marienbad,
afirmou: “Recém-formado, trabalhei em pequenos hospitais da Polônia, onde
presenciei tantos sucessos com a s., que essa terapia para mim se tornou óbvia.
Fiquei admirado, ao trabalhar mais tarde em clínicas em Viena e Berlim, que
essas medidas e seu efeito eram completamente desconhecidos. Presenciei como
doenças — que como jovem médico via regularmente responder de forma excepcional
a essa medidas simples — resistiam, nas clínicas, muitas vezes a todas as
terapias modernas. Em minha clínica particular voltei, mais tarde, à essas
medidas antigas.”
Em sua monografia “A Terapia com S” (1935), o DrBohenberg descreve o sucesso
extraordinário em casos de tromboflebite, hemorróidas, nódulos linfáticos com
pús, inflamações das amigdalas, otite média aguda e angina. Ele também
conseguiu curar, com rapidez, grandes furúnculos e, por meio das s., além de
casos de pericardite, pneumonia, infecção da vesícula, apendicite aguda,
reumatismo e artrite.
Além disso, ele descreve casos de concussão cerebral, AVC, e , finalmente, a
melhoria em casos de esclerose múltipla, de depressão, esquizofrenia e
catatonia.
A aplicação das s. descrita pelo Dr. Bohenberg
A farmácia fornece, na Alemanha, as s. em um pequeno recipiente de gargalo
amplo, com água fresca não clorada. Antes da aplicação, a água é trocada, o que
torna as s. mais vivas. O local da aplicação é limpo com água e sabão, sendo
contra-indicada a desinfecção com álcool, éter ou sabonete perfumado, pois
nesse caso a s. não pega. É possível aplicar cada s. individualmente no local
desejado, por meio de um copo de licor.
Quando a s. pegou, deixamos sugar até estar cheia e cair por si só. Desta
forma, aumenta 4 a
5 vezes o seu volume, no decorrer de meia a uma hora. Para retirar a s. antes
de ela cair, cobrimos com um pouco de sal. A s. suga aproximadamente 5 a 8 g de sangue. Somando o volume
de sangue que escorre após a caída da s., obtemos, para cada s., segundo o
local do corpo, o triplo de sangue.
Não é aconselhável reutilizar a sanguessuga!
Muito importante para o efeito curativo é o sangramento da ferida após a queda
da s. Segundo o estado do paciente, podemos deixar o sangramento continuar
durante 4 a
12 hs (eventualmente ainda mais).
O ideal é colocar as ss. de manhã cedo e ficar controlando o paciente durante o
dia, até mais tarde à noite — para evitar eventual colapso em pessoa muito
fraca.
Cobrimos a mordida com algodão, que trocamos com freqüência.
A quantidade de ss varia de 1 a
20, segundo a doença, a localização, idade e o estado do doente.
Sanguessugas criados devem ser mantidos em aquários apropriados. Cuide para evitar a incidência de raios solares. |
Contraindicações
Com toda razão, o Dr. Bohenberg desaconselha a aplicação de SS quando o doente
é hemofílico, anêmico ou raquítico. Também aconselha muito cuidado quando o
doente toma medicamentos que contenham mercúrio. Também quando existem gangrena
do diabético e precárias condições de cicatrização, a aplicação da ss. é
problemática.
Tirando a
dor: um remédio antigo com nova aplicação
Há 10 anos, muitos médicos carregavam ss.em suas maletas. As ss. eram muito
valiosas para controlar coágulos de sangue, porque a sua saliva contém um
anticoagulante.
Hoje, normalmente, se usam medicamentos anticoagulantes, embora as vezes as ss.
ainda sejam aplicadas em casos de coagulação pós-operatória. A saliva das ss.
contém ainda outra substância que capacita o animal a extrair o máximo de
sangue de seu hospedeiro — isto é, um anestésico.
Um grupo de cientistas na Universidade de Duisburg – Essen, na Alemanha, fez
uma pesquisa para verificar se esse fator pode ajudar a aliviar a dor nas
articulações afetadas por artrite. Escolheram 51 pessoas sofrendo de
osteo-artrite do joelho. A metade dessas pessoas recebeu, duas vezes ao dia, o
medicamento diclorofeno, aplicado no joelho. Os demais foram tratados com ss.,
aplicando quatro a seis ss. ao joelho, até se soltarem satisfeitas, após cerca
de uma hora.
A terapia com ss. obteve resultado bem melhor e trouxe benefícios mais
prolongados, ao reduzir a rigidez e melhorar a função da articulação. Isso
ocorre provavelmente porque a saliva da s. — além de mitigar a dor — atua como
agente antinflamatório.
Também existem documentos que descrevem a aplicação de ss. em casos de derrame
(AVC). Nestes casos, ocorre um inchaço na caixa craniana que responde à s.
devido ao seu efeito descongestionante. Tanto em casos de isquemia, como para
pacientes com distúrbios do movimento e de fala, durante meses, a terapia com
ss. provocou melhoria admirável.
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Fontes: “Blutegel-Therapie — Den
Körperentgiften” de Peter Pukownik, 1998
“Technik der Konstituitioustherapie” de Bernard Aschner, 1995
“The Economist”,
novembro 15, 2003
Por: Alison Rodrigues
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